domingo, 28 de fevereiro de 2010

Eu quero ficar nu


Desde que minha mãe me deu um esporro por conversar muito
na sala de aula, regredi socialmente até me tornar o outsider de
hoje. Acompanhando o isolamento veio a timidez, também
causada pelo impedimento de sorrir por causa dos dois dentes
da frente devidamente quebrados fazendo um sorriso nada bonito.
Oh, que vergonha de sorrir. Dói lembrar. Meus pais tinham
condições de pagar um dentista pra consertar mas pra eles
era coisa menor(enquanto pra mim era tudo...).

Numa apresentação de um desses trabalhos escolares em que
a gente vai na frente e lê qualquer coisa escrita no papel, minha
timidez chegou ao seu auge. Segurava o papel e tremia como se
tivesse tendo um ataque e todo mundo dando risada da minha
cara. Foi o começo do fim para minha timidez. Jamais me
permitiria passar novamente por uma situação vexatória daquela.

E assim se deu. O isolamento continuou firme e forte ao longo
dos anos mas a timidez foi gradualmente passando. As amizades
só não vieram pura e simplesmente por uma divergência de
interesses. Enquanto os outro garotos se importavam com o
tamanho da bunda da Carla Perez e com Jiraya eu descobria
o movimento browniano i.e. nada a ver com nada.

Como a timidez não mais existia surgiu uma nova concepção
de corpo, livre da vergonha, a idéia de lar da alma deu lugar
a de prisão do espírito. E os valores que deviam ser preservados
em relação ao corpo viraram pó, o que tinha valor era tão somente
a mente, onde o homem é capaz de algo mais, por que por mais
que se diga que o corpo humano é perfeito, não é, ele é perfeito
na sua imperfeição, perfeito seria não cagar ou, por que não, ser
auto-suficiente, consumir-se a si mesmo até o esperado fim ou,
ainda, não ter fim. Isso sim não seria injusto chamar de perfeição.

Então queria ficar nu. Um pinto é um pinto, um cu é um cu. Nada
disso tem valor. Foi nesse momento que perdi a moral e criei
a minha versão.

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